quarta-feira, 17 de novembro de 2010

Psicólogas dão dicas de como superar a ansiedade após os problemas no Enem

 


O Blog do Fovest entrevistou três psicólogas da área de educação sobre esse difícil momento pelo qual os vestibulandos estão passando, causado pelos problemas no Enem e pela maratona de vestibulares de universidades públicas, que em São Paulo foi iniciada no último final de semana, com a 1ª fase da Unesp.
As psicólogas entrevistadas são:
- Maria Irene Maluf, psicopedagoga e coordenadora de pós-graduação em neuropedagogia e psicanálise
- Maria Stella Sampaio Leite, psiquiatra e orientadora profissional da Colmeia
- Quezia Bombonatto, presidente nacional da Associação Brasileira de Psicopedagogia
Confira o que elas responderam:
1. Como os recentes problemas na aplicação do Enem interferem no preparo psicológico dos candidatos?
Maria Irene Maluf - Quanto mais jovem a pessoa, mais difícil é compreender esse tipo de problema, pois não há em seu repertório pessoal muitos modelos de superação de perda. Além do que, é bastante complicada a situação criada, pois envolve a primeira opção de vida da maioria desses jovens e dificilmente algum deles estava preparado para mais esta questão envolvendo o exame do Enem.
Maria Stella Sampaio Leite - Essas situações foram desagradáveis, com prejuízo para o sistema educacional e para os candidatos. Como garantir confiança numa prova que pela segunda vez apresentou problemas? Difícil. Contudo, os jovens devem se manter focados nos seus recursos pessoais, confiar no seu preparo anterior e se manter firme no seu projeto de ingressar na faculdade. De certa forma, esse problema desestabilizou todos os candidatos, não só pessoas individualmente. Às vezes existem problemas alheios às nossas vontades.
Quezia Bombonatto - O erro supõe falta de organização e fragilidade do sistema, gerando insegurança e descrença no processo avaliativo. O candidato pode ficar ansioso por não saber o que poderá acontecer, além de ter de lidar com a frustração de ter feito um trabalho e este ser anulado. O candidato pode se sentir desrespeitado e o senso de justiça e injustiça começa a aflorar, levando a uma instabilidade ao lidar com as emoções dali decorrentes.

2. A ansiedade causada pelas indefinições em relação ao exame pode atrapalhar os estudos?
Irene - A descrença em um sistema considerado até então como sólido pode fazer com que alguns jovens menos envolvidos nos estudos, com motivação menos significativa para essa etapa da vida acadêmica, repensem sua posição. Mas, para isso, as famílias estão aí, dando apoio e mostrando aos filhos meios de vencer essa turbulência e buscar outros caminhos.
Stella - Pode, mas não deve. Cada pessoa tem de abraçar a sua causa e se manter firme ao seu propósito.
Quezia - Certamente. No processo da aprendizagem, um dos fatores que interferem no seu êxito é a tranquilidade do aprendiz


3. Como os vestibulandos devem agir neste momento? É o caso de continuar estudando?
Irene - Creio que continuar estudando é a única opção que existe para aqueles que desejam entrar nas faculdades onde o resultado desse exame é importante, mas pensar em uma possibilidade pode ser, além de importante, uma possibilidade inteligente, pois há outros exames (vestibulares) que estão aí para serem disputados.
Stella - Frente a cada obstáculo, vale a pena desistir? O jovem não pode se desestruturar diante de cada dificuldade. Ele tem que continuar o programa de estudos que fez. Afinal, terá novas provas a enfrentar, independentemente do Enem.
Quezia - Em primeiro lugar, é muito importante que o candidato "saiba" qual decisão será tomada. O não saber é aprisionante. Esta já é uma fase de muitas inquietações e inseguranças. Este tipo de erro só vem aumentar ainda mais as incertezas e as ansiedades que por si só são comuns nesta fase. É necessário que se resgate a confiança e a seriedade desse exame o quanto antes, e que as decisões e os procedimentos a serem adotados sejam brevemente divulgados para que o candidato possa ter tempo e disponibilidade para se reorganizar.


4. Como encarar a maratona de vestibulares deste final de ano?
Irene - Não existe fórmula mágica: sem muito estudo não há como passar. Entretanto, nosso cérebro depende de sono regular, boa alimentação e momentos de descanso para fixar a aprendizagem.
Stella - Remar sempre até chegar ao final do percurso. Não desistir no meio do caminho.
Quezia - Penso que não há uma única fórmula que contemple todas as modalidades de aprendizagens dos vestibulandos. É importante que cada vestibulando faça um resgate de sua trajetória escolar e liste as atitudes e posturas que teve em sua vida escolar, veja o que lhe foi útil e qual atitude o ajudou a alcançar sucesso em sua vida escolar, até hoje.


5. Como equilibrar momentos de estudo e descanso?
Irene - O equilíbrio está no meio termo: não exagerar em estudos durante a madrugada e não usar as madrugadas para outra coisa senão descansar do dia de estudo. Uma boa noite de sono é indispensável. Pequenas pausas para um lanche ou uma refeição devem ser seguidas de pelo menos meia hora de atividades diversificadas, que distraiam e exijam menos atenção.
Stella - É importante ter hora para relaxar, ter um dia por semana sem pensar nos livros.
Quezia - O equilíbrio está no bom senso. É claro que é uma fase atípica na vida escolar e, portanto, exige desprendimento, determinação e mais dedicação. As horas de estudo devem ser adequadas ao ritmo de cada aluno, pois os exageros não ajudam, muito menos entrar numa zona de conforto tal que passe a justificar a falta de motivação para o estudo por uma suposta "necessidade de descansar".

6. Como os familiares e amigos podem ajudar os vestibulandos?
Irene - Isso depende muito do perfil do jovem, de suas características pessoais. Se, em alguns casos, a família deve "pegar pesado", insistindo e mostrando a necessidade de mais dedicação aos estudos, em outros casos, diminuir a ansiedade do jovem é decisivo para o seu sucesso. Geralmente as famílias conhecem bem como devem agir.
Stella - As pessoas próximas ajudam à medida que não aumentam a pressão vinda do colégio, do cursinho e do próprio candidato. Não provocar dispersão com sugestões mágicas ou mirabolantes. Vale lembrar que um pouco de tensão é sempre positivo, porque coloca a pessoa em alerta e pronta para responder aos desafios. Não é aconselhável ficar completamente relaxado ou absolutamente estressado.
Quezia - É de fundamental importância que os familiares, principalmente os pais ou seus cuidadores, passem ao vestibulando a crença do quanto ele é capaz, que o valorize, o incentive e o motive. Mas deve-se ter cuidado com as cobranças excessivas que podem atrapalhar o desempenho e até mesmo interferir na autoimagem e autoestima do vestibulando. Procure oferecer um ambiente tranquilo, sem muitas agitações ou até mesmo com muitas festas ou eventos que poderão desfocar a atenção do vestibulando neste período.

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