terça-feira, 19 de outubro de 2010

Entrevista de mineiro chileno, após resgate.

'Sou mais humano e amoroso agora', diz mineiro 'corredor'


Durante a entrevista, fica claro que o sentimento de amargura de Pena ante tudo o que sofreu é palpável e beira o delírio.                                                                        
Edison Pena puxava paletas de madeira como exercício a fome intensa que sentiu durante os primeiros dias de aprisionamento - as costelas ainda visíveis na altura do peito - parece ser o que mais o assombra hoje. "Acho que, de hoje em diante, nenhum alimento será desperdiçado na minha casa. Quero dar uma grande mensagem em relação à fome no mundo. Eu nunca pensei em dar uma entrevista, mas agora acho que Deus estava nos protegendo, ele estava me protegendo, e com humildade eu não gostaria de deixar um grão de arroz ser desperdiçado em casa, por que isso é o que senti, aquela fome, e passar por aquilo novamente é demais para  mim".                                                                                                                                                                 Os mineiros terão de se submeter a exames médicos regulares durante os próximos seis meses. O objetivo desses exames é ajudá-los a recuperar sua saúde e guiá-los durante um difícil período psicológico. 
Os médicos se preocupam particularmente com doenças associadas ao estresse. A cultura associada ao setor de mineração, onde trabalhadores são tidos como "durões", poderá ajudar alguns dos mineiros chilenos a superar seu trauma.                                
Psicólogos alertam, no entanto, para a possibilidade de que, justamente por terem a reputação de durões, eles deixem de pedir ajuda se precisarem de apoio emocional.        
Edison Pena corria e fazia exercícios nos túneis Segundo os psicólogos, é possível que alguns dos homens vivenciem ansiedade, flashbacks (quando lembranças de traumas vividos no passado voltam a assombrar a pessoa no presente) e outros sintomas do transtorno de estresse pós-traumático. 'Fique Vivo' Falando com franqueza sobre os tormentos vividos, Pena disse que o apoio oferecido a ele pela parceira Angélica e pelas cartas trocadas com as pessoas do lado de fora o ajudaram a suportar o sofrimento. As palavras escritas - ele disse - lhe deram conforto na escuridão. "Fique vivo", ele dizia a si mesmo. Em uma série de fotografias tiradas com uma câmera enviada a Pena pela BBC, o mineiro revelou um pouco da vida que viveu na escuridão.
Diferentemente dos outros homens soterrados, que se voltaram para Deus em busca de apoio, Pena procurou salvação nos exercícios físicos. As fotos mostram o que fez para vencer seus demônios.                                                                                     
Pena corria cerca de oito quilômetros por dia na mina úmida, sob temperaturas em torno de 40 ºC. E para melhorar seus níveis de estamina (um estimulante natural do organismo) ele passou a arrastar uma caixa de madeira quando corria.                                          
 "Essas fotos são testemunhos, quero que todos entendam isso. Não quero me mostrar, não quero ficar famoso correndo. Acho que correr na superfície de novo, e ver a praia, acho que nada se compara a isso".                                                                          
A reputação de Pena, como corredor, e seu amor por Elvis Presley, resultaram em convites para que ele participe da maratona de Nova York em novembro e visite a mansão de Presley no Tennessee.
            Apesar de tudo o que passou, o mineiro diz que vê um futuro melhor para si mesmo e sua família.
"Agora existe luz, antes não havia nenhuma. Lá, eu tinha de andar com uma lanterna. Agora, estou feliz em estar de volta ao meu país, e com esta luz. Eu achava que não ia voltar, mas voltei e estou muito feliz".
            "Sou mais humano agora. Amo mais as pessoas, acredito em tocar as pessoas. Eu me amo muito mais".

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